
Chegou o Outono. Com ele, as primeiras chuvas e os primeiros dias de aulas. O Pedrito lá foi todo gaiteiro. Mochila “pintarolas”, boné “number nine” e consola “Xpto”.
Já de regresso a casa, a borrasca havia deixado a sua marca por todo o lado. Até aquela depressão no piso do arruamento se transformara num pequeno e espelhado charco de água. Ainda viu, ali, a errante andorinha saciar a sua sede antes de partir, em voo gracioso, para terras mais amenas.
Porque o pai se atrasara, o Pedrito pousa a mochila, senta-se na berma do passeio, ainda exibe um gesto à procura da consola mas o olhar prende-se-lhe naquele charco onde se desenhavam suaves e mágicas ondas concêntricas.
Num ápice, o charco era um grande mar. A folhinha seca, flutuando à tona, um enorme transatlântico cruzando oceanos. Até as pequenas partículas submersas eram cardumes infinitos de peixes coloridos.
O mar… ah, o mar!?... Que haveria para lá do mar? Que outras terras, que outros meninos? Que outras coisas haveria por lá? Seria para lá que iriam as andorinhas que teimam sempre em chegar quando é Primavera?
E os barcos? Iria ele, um dia, navegar no mar azul, num desses paquetes gigantes até à terra das palmeiras com praias de areia branca?…
O Pedrito de olhos arregalados, exorto naquele pensamento que o levava a terras distantes, deixa escapar um terno suspiro e, de tão extasiado, nem o roncar forte do motor, de um enorme camião que se aproximava, o fez despertar.
Num instante, daqueles mais breves que o mais breve piscar de olhos, o seu coração deu um salto, o seu corpo enregelou, a sua boca se assombrou… a roda do monstro havia desfeito o pequeno charco e havia-o salpicado com a água do seu mar…