Fuscas...
Como bom capricorniano tenho o irritante hábito de racionalizar demasiado os meus comportamentos e gestos. Apesar de ser algo que, sinceramente, não me agrada lá muito e que de todo quase nunca consigo evitar, devo reconhecer que tem a vantagem (ao menos isso) de garantir que raramente cometa “gaffes” ou pratique gestos que me possam causar situações de forte embaraço público.
Por isso, o desafio da
Immortal para que relatasse uma situação embaraçante que tenha vivido, tenha sido, para mim, um enorme desafio. Desafio de procura na memória de algo que me tenha provocado vergonha pública... pública, porque envergonhado e tímido já sou por natureza. Bom..., mas depois de muito procurar na memória, lá me consegui lembrar de uma e que não é lá muito própria de ser contada aqui. Mas vou tentar... não vou referir datas nem locais específicos para evitar identificar pessoas, já basta que me identifiquem a mim e que não saia lá muito bem na fotografia... então foi assim:
Na primeira metade dos anos 90, por força da actividade que desenvolvia, na altura, fui convidado para um jantar de encerramento de um encontro nacional da polícia. A mesa tinha a configuração de um U e havia comensais de um lado e outro da mesa disposta nessa configuração. Ditou o acaso que ficasse sentado ao lado do presidente da Câmara lá do sítio (pessoa de quem era particular amigo) e este, por sua vez, sentado ao lado das chefias da polícia que ocupavam os lugares centrais da cabeceira da mesa.
Mesmo em frente ao “je” ficou sentada uma agente açoriana (notava-se, claramente pelo sotaque) que era portadora dum corpanzil e dum vozeirão dignos duma série policial de terceira categoria rodada nos subúrbios de Nova Iorque no final dos anos setenta.
Mal começou o repasto, logo a matraca se iniciou em languidos, atrevidos e descarados exercícios de provocação libidinal a um dos oficiais que estava sentado à distância de três lugares à minha esquerda. O destinatário torcia-se todo de cada vez que voava mais um piropo despojado de qualquer discrição ou sentido de oportunidade... o homem já não dizia coisa com coisa e suava por tudo que era escape cutâneo. Naquela zona da mesa era mais do que evidente o constrangimento provocado por tanto “latão” e atrevimento. Era notório o constante mudar de assunto de conversa como forma de contornar tão delicada situação...
Perante a ausência de correspondência do destinatário que estava já mais vermelho e suado que um moiro em fim de batalha e porque percebera os exercícios de disfarce dos que o rodeavam, a “assediadora implacável” ensaia uma “tirada” mais ousada e mais audível... o que provocou um súbito silêncio na cabeceira da mesa.
Naquele momento de extremo desconforto fui compelido a um gesto de ingénua generosidade... tentei que o “camião” se entretesse comigo para aliviar a tensão que se vivia ali ao lado... e qual D. Quixote de lança em riste, virei-me para ela, como se de um “moinho de vento” se tratasse, e ripostei:
- Já reparou que ali o “nosso” comissário está noutra onda!?... não se quer virar antes para aqui?...
Ó céus... ó raios e coriscos... ó todas as maldições... não é que o estafermo desata às gargalhadas tronitroantes provocando o silêncio e a atenção total na sala... e perante o silêncio e a atenção de todos, vira-se para o aprendiz de D. Quixote e diz-lhe com aquele vozeirão todo:
- Olha, olha, virar-me para si? Nunca! Uma polícia nunca se deixa f... por um civil.
PS - E, agora, Immortal, havia necessidade disto, havia?
tss, tss... José... tu não percebes-te foi a deixa...
Ela queria-te era fardado :)
Abraço